segunda-feira, 22 de outubro de 2012

ENTREVISTA COM BASÍLIO. PUBLICADO NO JORNAL "O FIEL" EM 2010.


ENTREVISTA COM BASÍLIO                                                          Dirceu Barros
                                                                                                                     
        João Roberto Basílio, 61, o jogador que entrou para uma das páginas mais importantes do Centenário do Corinthians, graças ao gol iluminado que acabou com o jejum de títulos de mais de 22 anos do alvinegro, concedeu a essa entrevista na sede da Associação que preside,  Craques de Sempre, entidade ligada a Secretaria Municipal de Esportes, onde atuam ex-atletas profissionais na direção de escolas de futebol para a população de jovens carentes; e faz comentários esportivos no canal fechado BlueTV.


         A INVASÃO CORINTIANA


Dirceu Barros: Como foi para os jogadores presenciarem a invasão maciça da Fiel no Maracanã?
  O primeiro a visualizar toda aquela multidão fui eu. Como eu estava no banco (Basílio havia entrado em campo no segundo tempo, substituindo Givanildo) a gente tem o costume de deixar as malas no vestiário e sair para ver se tem preliminar, e ver as condições do gramado, etc. Ao ver  aquilo chamei o pessoal para mostrar como estavam as arquibancadas, divididas ao meio. Eu verifiquei que estávamos até com uma porcentagem a mais, pois na parte do fosso, havia torcedores do Corinthians, Flamengo, Vasco e do Botafogo. O presidente do Fluminense, Francisco Horta liberou 70 mil ingressos para o Corinthians, e tinha sido alertado pelo Rivellino que estava mexendo num vespeiro, mas não o levou a sério. Os próprios torcedores se surpreenderam, acho que todos decidiram ao mesmo tempo,   ir ao Maracanã.
Esse episódio deve virar um filme. Jamais vai ser se repetir.


D.B.:Na final contra o Inter, foi verdadeiro o sufoco que time e torcida sofreram extra-campo?

A diretoria do Inter, principalmente, apavorou todo mundo , mas foi um terror generalizado.  Quando torcedores se identificavam na cidade, tinham dificuldades para acomodação e alimentação. No estádio, a  torcida ficou muito mal-acomodada; faltou água,  fazia muito calor, e fecharam os banheiros. A dona Marlene levou tapa na cabeça, e chutaram o seu Vicente  (o ex-presidente Vicente Matheus e sua esposa), embora nada disso tenha diminuído o mérito do time do Internacional, que era espetacular.


D.B.: Se o Corinthians tivesse empatado aquela partida (houve um gol corintiano mal anulado quando o time perdia por 1x0), você acredita que a história poderia ter sido mudada, ou o Inter era mesmo imbatível em casa?  
Quem veste a camisa do Corinthians conhece o aspecto emocional que move o time. Se tivéssemos empatado aquela partida, a história poderia ter sido outra. Foi o que aconteceu na partida contra o Fluminense.


1977


D.B.:  Na primeira partida,  o Corinthians venceu por 1x0; na segunda, Morumbi abarrotado de gente, fim do primeiro tempo, Timão 1x0. Veio o segundo tempo, e a virada: Ponte 2x1. O multidão de 140 mil pessoas saiu em silencio,  como se estivesse saindo de um velório. Como se sente o jogador num momento como esse?
Nós mal víamos a hora de chegar a quinta-feira. Jogávamos até por um empate na prorrogação, mas queríamos a vitória. Foi feita uma boa preparação psicológica, e chegávamos a brincar com a ameaça que representavam os jogadores da Ponte Preta. A desconfiança ficou para o torcedor, que já havia sofrido decepção nos anos anteriores, mas para nós, jogadores, o sentimento era  de confiança.


D.B.:O sentimento frustração pela falta de títulos naquela época foi desfeita pelo seu gol,  mas  parece se repetir agora em relação a Libertadores. Será que teremos em breve
 um novo Basílio,  para fazer um gol salvador?
 O mais importante será uma sequencia de disputas da Libertadores. O que não pode é jogar um ano, e depois ficar três sem jogar. Uma sequencia de disputas fatalmente levará a conquista do título, e eu, como torcedor, espero muito por isso.



“A atual diretoria sempre me procura, e me convida para  todos os eventos que o clube realiza, e isso é algo que honra muito  a mim, e a minha família. Anteriormente, até barrado na portaria eu era.”


D.B.:Como foi a sua adaptação ao se aposentar dos gramados?
Eu parei consciente. Quando sai do Corinthians, metade do passe era meu, metade do clube. Ganhei o passe do Corinthians, cheguei em minha casa com a boa nova, mas ao mesmo tempo me deparei com o agravamento da saúde da minha mãe. Julguei que teria a vida toda para trabalhar e ganhar dinheiro, mas o momento exigia o meu carinho e a dedicação total à família.
A maioria dos jogadores não tem preparo para parar de jogar, e muitas vezes sofrem de depressão, ou fazem escolhas erradas, e não é raro ver ex-jogadores se perderem.

D.B.: Há algum arrependimento na sua carreira?
Não. Eu joguei na época certa, no momento certo. Os gramados eram ruins, as condições mais difíceis, os materiais esportivos inferiores. Alguns perguntam se Pelé jogasse nos dias de hoje, faria os mil gols que fez.  Eu digo que se ele jogasse hoje, não teria feito mil gols, mas quatro mil. É a minha geração, e só tenho coisas boas para guardar.

D.B.: Qual jogador corintiano que você mais admirou?
O craque que vi jogar chama-se Roberto Rivellino, sem dúvida nenhuma. Ele sempre quis que jogássemos juntos, mas eu acabei por substituí-lo no Corinthians, veja como é a vida. Mas, também não seria justo deixar de mencionar o Zé Maria e o Wladimir, regulares como relógios, nunca decepcionavam. Dos mais recentes, Tevez foi um vencedor, e Ronaldo, que embora não seja o mesmo que jogava na Europa, ainda consegue fazer a diferença. Surpreendeu, e conquistou títulos no Corinthians.

D.B.: Fazer aquele gol que te colocaria na história, era algo que passava pela sua cabeça?
               Nem em sonho. Quando o Brandão falou que eu faria o gol, eu respondi que o gol                                    poderia ser até do goleiro Tobias, o importante era a conquista do título. Pensávamos em passar para a história como um grupo que quebrou o jejum de títulos. O desejo era o de ser campeão pelo Corinthians; não caiu a minha ficha na hora, da importância daquele gol. Até  hoje crianças pedem para tirar fotografias comigo, e eu lhes pergunto como eles conhecem, e eles respondem que me conhecem pelas fotografias, pelos filmes, pelas histórias que seus avós contam. Então, no dia do gol, nem tinha como eu imaginar a dimensão que aquilo tomaria.


D.B.: Você se sente plenamente reconhecido pelo seu feito?
Eu me sinto totalmente reconhecido, não só pela Nação Corintiana, mas também pelos torcedores de outros times.


CORINTHIANS HOJE

D.B.: Como você vê o time atual?
O Corinthians está no caminho certo. Tenho conversado com o presidente, e ele me disse que está de olho nas revelações dos times brasileiros, e creio que esse é o caminho a seguir, e isso pode ser notado nos jovens jogadores que têm se firmado no time atual.


D.B.:  Como é a sua relação com o Timão, hoje?
Maravilhosa, especialmente com a atual diretoria. Ela sempre me procura, e me convida para todos os eventos que realiza, e isso é algo que honra muito  a mim e a minha família. Anteriormente, até barrado na portaria eu era.


Roda de Corinthianos

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